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terça-feira, 17 de maio de 2011

O prolongamento do FC Porto vs SC Braga

A cerca de 1.400 quilómetros daqui, disputa-se esta quarta-feira um jogo de futebol que pode fazer por todos nós, famalicenses, muito mais do que as migalhas que nos hão-de tocar do resgate internacional às finanças de Portugal.

Em tempo de crise, ter os clubes mais representativos das duas cidades economicamente mais fortes da Região Norte na final de uma competição internacional de futebol vale por dezenas campanhas de promoção regional – ou das cidades do Porto ou Braga individualmente consideradas.

Sendo nós territorialmente quase equidistantes de ambas, esta final nortenha da Liga UEFA também nos interpela, independentemente das simpatias desportivas de cada um - porque nos puxa o lustro da alma, nos reconforta a auto-estima e nos incute um sentimento de pertença a um espaço geográfico, económico e cultural que é o nosso.

A Europa vai sentar-se defronte do televisor e durante hora e meia vai ouvir falar de nós, mesmo sem nos nomear, numa narrativa de festa que tem, compreensivelmente, o Porto e Braga como protagonistas.

O Velho Continente ficará a saber o que valem as duas equipas e todos os rankings futebolísticos e mais algum. Ficará a conhecer melhor as vedetas intervenientes e as respectivas façanhas desportivas. Mas, também terá notícia da nossa identidade histórica e sociológica comum, do território partilhado, da mesma matriz económica da duas cidades, dos avanços induzidos pela actividade das suas instituições universitárias e, espero eu, do carácter distintivo do Norte e dos nortenhos relativamente aos portugueses de outras latitudes.

Por isso, numa leitura mais focada em Famalicão, aquela hora e meia de futebol pode fazer mais pelo concelho do que qualquer medida voluntarista da autarquia em prol da captação de quaisquer investimentos regeneradores do tecido empresarial local. De alguma forma, pode reabilitar-nos aos olhos do mundo. Porque vai voltar a colocar os vales do Cávado e do Ave e os pólos industriais que circundam o Porto no mapa das oportunidades. E por boas razões! Mostrando lá fora que continuamos a ser terra de gente empreendedora, a quem o trabalho honra e realiza.

Nesse enquadramento, Famalicão também ficará na fotografia. Jogaremos o prolongamento.

Vença quem vencer, o FC Porto e o SC Braga ter-nos-ão dado a possibilidade de fazer saber (inclusive, ao FMI, ao BCE e à Comissão Europeia) que continuamos, no essencial, a ser a mesma gente que puxou pela industrialização de Portugal, no século passado, mas que, agora, estamos carentes de novas indústrias, de um acesso mais facilitado às fontes de conhecimento e de inovação, de mais investimento produtivo e, sobretudo, de mais e mais qualificado emprego.

Por isso, esta partida de futebol joga-se, para Famalicão, noutros campos e já depois de as câmaras da TV se terem desligado.

Haverá empresários e decisores institucionais que estejam preparados para esse desafio maior?

Carlos de Sousa

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