Projeto lançado pela Câmara
Municipal de Famalicão e a Guimarães 2012 apresentou
frutos
A obra que Camilo Castelo
Branco escreveu durante a sua passagem pela Cadeia da Relação do Porto, em 1862,
onde esteve preso por adultério, “Memórias do Cárcere” foi agora recriada por
cerca de 20 reclusos do Estabelecimento Prisional de Guimarães. A obra “Memórias
do Cárcere Revisitadas”, contendo textos de 18 pessoas foi apresentada, nesta
quinta-feira, ao público no Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães.
Culminou, deste modo, o projeto que a Câmara Municipal de Vila Nova de
Famalicão, através da Casa de Camilo, tinha proposto à Administração da Capital
Europeia da Cultura – Guimarães 2012 para se assinalarem os 150 anos da edição
de “Memórias do Cárcere”, um dos mais notáveis textos de Camilo Castelo
Branco.
Neste âmbito, foi promovida
uma Oficina de Escrita Criativa que cativou as pessoas detidas a redigir os seus
próprios testemunhos e percursos de vida. De pronto aceite pelos reclusos, a
iniciativa decorreu durante o primeiro semestre de 2012 e compreendeu várias
fases de execução: a leitura de capítulos de «Memórias do Cárcere» por D. Jorge
Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga, Alice Vieira, escritora, e Ruy de Carvalho,
ator; a formação dos detidos em escrita criativa ministrada pelo formador Miguel
Horta; e visitas de estudo dos participantes à Casa de Camilo, em São Miguel de
Seide, e à Cadeia da Relação do Porto.
A obra agora apresentada, em
formato de álbum, reúne os textos produzidos durante esse atelier e são dados à
estampa na sua redação original com incrustações aqui ou acolá de trechos de
alguns escritores.
Investidos na função de
autores, os detidos demonstraram enorme entusiasmo e dedicação para honrar o
convite e o desafio que lhes foram formulados e usufruíram de experiências raras
de reflexão e de criação artística, de momentos de fraternal partilha e
interação e de um espaço privilegiado de afirmação das capacidades pessoais.
O envolvimento em obter os
melhores resultados refletiu-se na vida interna diária do estabelecimento
prisional onde as dinâmicas geradas se traduziram quer na diminuição dos
conflitos quer na oxigenação da cumplicidade e da entreajuda entre os
participantes.
Norteadas pela intenção de
integrar cidadãos temporariamente privados de liberdade e de concorrer para uma
inclusão positiva dos mesmos, as instituições que tutelaram a Oficina de Escrita
viram também ser cumpridos outros objetivos.
Para João Serra, Presidente da
Fundação Cidade de Guimarães, este projeto “demonstrou recetividade da
Capital Europeia da Cultura em acolher contributos de instituições culturais de
concelhos confinantes que possibilitassem qualificar ainda mais a oferta da
Guimarães 2012 e valorizou a participação de uma tipologia muito específica de
público no programa da Capital Europeia da Cultura”.
José Alves de Sousa, diretor
do Estabelecimento Prisional Regional de Guimarães, referiu que a instituição
que dirige “abriu as portas para que a cultura orvalhasse a solidão do
cárcere, permitindo que os reclusos se tornassem membros ativos e colaborantes
desse relevante evento nacional e internacional”.
A Casa de Camilo, nas palavras
de Armindo Costa, Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão,
“associou a figura de Camilo Castelo Branco e a sua herança literária e
patrimonial a um acontecimento de enorme projeção e alcance, preocupada com a
democratização da cultura e, na presente situação, empenhada em que a comunidade
reclusa se sentisse estimulada a desenvolver a sua criatividade e a apurar o seu
espírito crítico”.
Ana Filipa Ribeiro
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