Antes de mais gostaria de felicitar o Jornal Povo Famalicense pela criação deste blog. Espaços onde se discutem sem anonimatos hipócritas, de forma aberta, crítica e frontal, problemas de Famalicão e dos famalicenses fazem falta como pão para a boca. Mas vamos ao que me trouxe aqui.
Preocupa-me pessoalmente viver numa democracia assente em pés de barro, que é como quem diz, em estruturas partidárias por vezes mais representativas dos respectivos dirigentes do que dos militantes/cidadãos. Concordo, por isso, com muita da prosa que Carlos Sousa tem escrito nos últimos tempos sobre o assunto. Os 87 militantes do PSD que elegeram Mário Passos & Cia não escolheram um homem qualquer. Elegeram a pessoa que habitualmente escolhe um dos dois potenciais futuros presidentes da Câmara, escolheram a(s) pessoa (s) que decide quem são os candidatos/presidentes de Junta e provavelmente deputados de Famalicão para a AR. E sabemos que escolheram ainda muito mais do que isto…
Ou seja, uma boa parte da vida dos 130 mil famalicenses estará determinada pelo que pensarem, discutirem, decidirem e ordenarem estes senhores escolhidos por estes 87 militantes. Se pensarem, decidirem e ordenarem mal estamos tramados.
Mas o surpreendente não é que Mário Passos tenha sido eleito por 87 militantes no PSD ou Fernando Moniz por um pouco mais no Partido Socialista. Só fica espantado quem não sabe como se organizam os partidos, sobretudo a nível local. Inacreditável é o tranquilo conformismo com que militantes e simpatizantes dos partidos assistem a tudo isto. Inacreditável é a ausência quase total de massa crítica quer no sistema político-partidário quer na Sociedade Civil em geral. No PSD (com excepção de um ou outro dessidente) não se conhecem vozes críticas do partido ou do poder que decide as tarifas de água e saneamento, o IMI ou os investimentos nas freguesias. No PS sobram dedos das mãos para contar o número de militantes/simpatizantes que tomaram posição pública crítica, por exemplo, relativamente ao desaire eleitoral de Outubro (já aqui escrevi sobre o assunto) ou relativamente ao modo como o partido vem sendo conduzido nos últimos 20 anos. Isto quando estamos a poucos meses de um novo acto eleitoral.
O filósofo português José Gil (em Portugal Hoje, o Medo de Existir) vai buscar ao Antigo Regime as raízes deste adormecimento colectivo. Lá terá a sua razão. Diz ele que, «trinta anos depois do fim do regime do medo, convivemos ainda com ele. (…) O medo é medo do poder mas também da impotência própria diante do poder. (…) Se não afastarmos agora o nevoeiro que ameaça novamente toldar o nosso olhar, poderá ser demasiado tarde quando nos apercebermos que nos encurralaram num beco.»
Por isso - como disse em tempos Manuel Alegre, sobre o Partido Socialista - é urgente acordar.
Preocupa-me pessoalmente viver numa democracia assente em pés de barro, que é como quem diz, em estruturas partidárias por vezes mais representativas dos respectivos dirigentes do que dos militantes/cidadãos. Concordo, por isso, com muita da prosa que Carlos Sousa tem escrito nos últimos tempos sobre o assunto. Os 87 militantes do PSD que elegeram Mário Passos & Cia não escolheram um homem qualquer. Elegeram a pessoa que habitualmente escolhe um dos dois potenciais futuros presidentes da Câmara, escolheram a(s) pessoa (s) que decide quem são os candidatos/presidentes de Junta e provavelmente deputados de Famalicão para a AR. E sabemos que escolheram ainda muito mais do que isto…
Ou seja, uma boa parte da vida dos 130 mil famalicenses estará determinada pelo que pensarem, discutirem, decidirem e ordenarem estes senhores escolhidos por estes 87 militantes. Se pensarem, decidirem e ordenarem mal estamos tramados.
Mas o surpreendente não é que Mário Passos tenha sido eleito por 87 militantes no PSD ou Fernando Moniz por um pouco mais no Partido Socialista. Só fica espantado quem não sabe como se organizam os partidos, sobretudo a nível local. Inacreditável é o tranquilo conformismo com que militantes e simpatizantes dos partidos assistem a tudo isto. Inacreditável é a ausência quase total de massa crítica quer no sistema político-partidário quer na Sociedade Civil em geral. No PSD (com excepção de um ou outro dessidente) não se conhecem vozes críticas do partido ou do poder que decide as tarifas de água e saneamento, o IMI ou os investimentos nas freguesias. No PS sobram dedos das mãos para contar o número de militantes/simpatizantes que tomaram posição pública crítica, por exemplo, relativamente ao desaire eleitoral de Outubro (já aqui escrevi sobre o assunto) ou relativamente ao modo como o partido vem sendo conduzido nos últimos 20 anos. Isto quando estamos a poucos meses de um novo acto eleitoral.
O filósofo português José Gil (em Portugal Hoje, o Medo de Existir) vai buscar ao Antigo Regime as raízes deste adormecimento colectivo. Lá terá a sua razão. Diz ele que, «trinta anos depois do fim do regime do medo, convivemos ainda com ele. (…) O medo é medo do poder mas também da impotência própria diante do poder. (…) Se não afastarmos agora o nevoeiro que ameaça novamente toldar o nosso olhar, poderá ser demasiado tarde quando nos apercebermos que nos encurralaram num beco.»
Por isso - como disse em tempos Manuel Alegre, sobre o Partido Socialista - é urgente acordar.
Sérgio Cortinhas
1 comentário:
É preciso que a democracia saia do espaço fechado dos partidos e passe para a praça pública. Isso só sucederá quando virmos, por exemplo, opinião publicada dos actores políticos locais ( e com raríssimas excepções tal sucede).
ACO
Enviar um comentário