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domingo, 17 de janeiro de 2010

Não lhes devo satisfações, mas avivo-lhes a memória

Mais papistas do que o papa, há alguns notáveis do PS/Famalicão que se sentiram incomodados com a minha crónica na última edição de O Povo Famalicense. Lamento o desconforto que, pelo que me vão dizendo, terei causado a tais camaradas meus, mas não estou disposto a sacrificar a minha liberdade pessoal às conveniências partidárias ou às necessidades carreiristas deste ou daquele correligionário político, por mais respeitável que ele seja.
Inscrevi-me em Setembro de 1974 na JS, rendido ao testemunho luminoso e à aura anti-fascista do meu tio-avô Artur Sentieiro de Sousa, um famalicense que muitos calendarenses na casa dos 70 recordarão com simpatia, por certo, há muito retirado da política activa, depois de uma carreira profissional bem sucedida na Banca e de ter alinhado com Lopes Cardoso (e outros, como António Vitorino…) na UEDS. Só um sério problema de saúde o impediu de ter emparceirado com Mário Soares, Salgado Zenha, Tito de Morais, António Macedo, Ramos da Costa e outros socialistas que lutaram contra a ditadura na fundação do PS, em Bad Munstereifel, na antiga República Federal da Alemanha.
Entreguei em mão a ficha de inscrição, com o meu tio Artur como proponente, na primeira sede concelhia do PS, no antigo escritório do saudoso dr. Armando Bacelar, na Rua de Alves Roçadas, ao meu amigo e camarada de muitos anos (e utopias) Joaquim Loureiro. Depois disso, a nora da vida deu tantas voltas… e eu aprendi a libertar-me dos espartilhos e das conveniências das capelas partidárias, a pensar por mim próprio e colocar a minha cidadania e a liberdade à frente de outros interesses; inclusivamente, dos meus próprios interesses pessoais.
Foi assim, por exemplo, nas autárquicas de 2001, em que eu e muitos socialistas da primeira hora, que lançaram e foram decisivos para a implantação do PS no concelho, nos pusemos, de corpo e alma, ao lado de Fernando Moniz contra Agostinho Fernandes - alguém se lembra, hoje, do nado morto que foi o jornal “Fórum Famalicense”?
Foi aí, e só aí, que conheci Maria José Gonçalves. De então para cá, raramente nos temos cruzado: as opções e os alinhamentos partidários de um e outro aprofundaram diferenças e as nossas personalidades levaram-nos por caminhos que nunca mais se interceptaram. Com maiores ganhos políticos para ela, seguramente: está há vários anos na vereação municipal, já integrou as comissões nacional e distrital do PS, já foi líder concelhia e é hoje uma das referências cimeiras da estrutura autónoma de mulheres socialistas. Mas… alguém lhe conhece uma ideia consistente para o concelho, uma proposta politicamente relevante para o PS ou uma estratégia mobilizadora da secção socialista em que ambos militamos?
Eu, militante de base por opção, cá continuo com as minhas inquietações e escritos em público partilhados, consciente de ter hipotecado, irreversivelmente, uma carreira política quando, a conselho amigo do inesquecível Francisco Salgado Zenha, optei por prosseguir estudos e constituir família, em detrimento de uma hipotética carreira política que, aos 20 anos, levou Mário Soares, à data secretário-geral do PS, a questionar-me da seguinte forma, cito de memória: “Como é que você chega tão tenrinho à Assembleia da República? Os padrecos lá de Braga não arranjaram melhor para contrabalançar com o Rêgo?”.
Percebi então o que, em pleno PREC, o meu camarada Joaquim Loureiro lhe escrevera, verberando a deriva jacobina do PS. Poucos meses depois, entusiasmado, participei em duas reuniões “clandestinas” no célebre sótão do apartamento de António Guterres, em Algés, numa conspiração anti-soarista. Inconscientemente, tinha traçado o meu destino partidário: o inferno. O mesmo, afinal, para o qual, agora, há quem me queira empurrar. Ou ver pelas costas, no mínimo...
Não tenciono dar-lhes esse gosto. Pelo menos, sem lutar pelas minhas convicções e princípios de sempre. Afinal, sou tão “histórico” como muitas abencerragens emergentes que se misturaram nos ingredientes com que Fernando Moniz tem confeccionado o caldo da unificação em curso no PS/Famalicão. Com uma grande diferença, apenas: nunca me atrevi a pedir mordomias ou cargos para mim ou a beneficiar de escolhas estritamente pessoais para exercer funções públicas. Se alguma vez deles usufrui, foi por eleição democrática ou por opção sufragada pelo colectivo dos militantes do PS Famalicão. Para que conste…
Carlos de Sousa

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